urbgrafias do território ambulante da cidade /
Elaine Nascimento
ambulante
adjetivo de dois gêneros
1. que se locomove, que anda ou migra.
2. que não tem lugar fixo; que se transporta sempre de um lugar para outro.
Envolvo-me e inicio o processo de pesquisa do projeto com a seguinte pergunta: O que seria uma espacialidade ambulante? Como gosto de saber o motivo de existência das coisas, sempre questiono o porquê, como e onde. Uma espacialidade móvel, transmorfa, que se compõe por corpos humanos e não humanos em relação? É Exú quem me ensina, as palavras são múltiplas de significados e sentidos, assim como as encruzilhadas: não é sobre um ou outro caminho, mas sobre desestabilizar passos e palavras, entendendo que haverá tantos caminhos como formas de existir no mundo. Nessa primeira tentativa de esquadrinhar palavras, convertendo e revertendo suas significações, às vezes é no óbvio que mora o sentido. E aqui percebo a relação íntima que o termo espacialidade assume com o corpo, com uma ideia de corporeidade.
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Segundo Merleau-Ponty, “ser corpo (...) é estar atado a um certo mundo, e nosso corpo não está primeiramente no espaço: ele é no espaço”¹. Através da corporeidade, do movimento do corpo sendo, que é por si espacial, existimos no mundo. Esse corpo existindo é cruzado, atravessado por inúmeros outros corpos, humanos e não humanos, vibrando existência no mundo e construindo ao mesmo tempo mundo. Nesse sentido, seria então uma espacialidade construída a partir da presença efêmera dos corpos (humanos e não humanos) que constroem tais espacialidades?
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Através do olhar para corpos que se inscrevem no espaço da cidade de forma efêmera, o artista Gabriel Villas circunscreve a ideia de uma espacialidade ambulante. Não apenas do ponto de vista conceitual, a ideia de espaço enquanto corpo em experiência - que envolve várias camadas dessa experimentação (contorno do corpo, pele, membrana, movimento, deslocamento, rastros, ruídos…) — revela presenças, histórias, existências políticas que significam através de seu trabalho ambulante, o direito à cidade: de estar, ser e permanecer na cidade, de através de sua presença desenhar espaços urbanos.
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A partir das espacialidades ambulantes (ou de seus rastros e ruídos), podemos perceber um desenho de cidade que não cabe no planejamento ou zoneamento, pois se inscreve a partir do corpo sendo no espaço. São esses contornos de corpos que delimitam uma malha que está imbricada na malha física do espaço urbano, uma malha (um mapa) inscrito no campo das micropolíticas e subjetividades. É a partir dessa malha que podemos, após detectar seus ruídos, repensar o espaço da cidade e sua estruturação. Mas não nos enganemos: os traços desenhados das espacialidades ambulantes são por demais efêmeros para serem eternizados. Pois o corpo é em si encruzilhada e, por isso, é plural e diverso, síntese e antítese.
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¹ MERLEAU-PONTY, 1999, p.205. In: MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. [tradução Carlos Alberto Ribeiro de Moura]. - 2- ed. - São Paulo:Martins Fontes, 1999. - (Tópicos).
Elaine Nascimento
assessoria de pesquisa
espacialidades
ambulantes /
Gabriel Villas
pesquisa ambulante
é uma ação no espaço público com duração de três horas e meia, realizada nas ruas do bairro dos Ingleses e que se desdobra em uma matéria de jornal.
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Realizamos uma caminhada pelas ruas dos Ingleses (Florianópolis/SC), com saída no alto do bairro e chegada na praia, em busca de comerciantes de rua com interesse em participar de uma entrevista — remunerada — que seria publicada em matéria do Jornal do Zinga.
Juliano, um dos editores do jornal, acompanhou e registrou a ação em fotografias.
registro fotográfico da 'pesquisa ambulante' (2021) por Juliano Ventura.
As entrevistas foram editadas e veiculadas em matéria do Jornal do Zinga.​
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O Jornal do Zinga é uma proposição artística que se constitui por meio da prática experimental da mídia jornal de bairro. A publicação aborda aspectos históricos, geográficos, estéticos, sociais, econômicos e ambientais do bairro Ingleses, em Florianópolis/SC, lugar a que se dirige. Proposta pelo grupo Observatório-móvel.
Wagner, na praia, segurando o primeiro número do jornal durante entrevista para o segundo número.
Jornal do Zinga n° 02, 2021, 28x38 cm, 2.500 exemplares.
confira aqui a matéria
Pesquisa Ambulante” matéria para Jornal do Zinga n° 02, 2021, 28x38 cm, 2.500 exemplares.
clique aqui para fazer o download em PDF
perguntas da entrevista, 19x21 cm, 2021.
camiseta de pesquisa, 2021, desenho em camiseta de algodão
registro fotográfico por Juliano Ventura.
Ao total foram oito entrevistas e oito produtos. Do Cezar, compramos um pacote com 7 milhos orgânicos por R$ 10,00; da Edite, um conjunto com 6 panos de prato por R$ 10,00; da Carmem, um salto quinze com estampa de oncinha por R$15,00; da Cláudia, um macaco de pelúcia por R$ 5,00; da Ana Laura, um protetor solar Avon 50 fps por R$ 29,99; do Antônio, uma peça de queijo colonial por R$ 20,00; do Amaral, uma manta dupla face por R$ 50,00 e, por fim, do Wagner, compramos um algodão doce azul por R$ 5,00.
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os produtos foram comprados e as entrevistas remuneradas com recurso do edital desta pesquisa.
arquivo da pesquisa, 2021, digitalização em escâner, 30 x 22 cm.